Daniel - Porque é que ele (Rui Pêgo) é tudo, como dizes que ele é para ti?
Júlia - Ah porque é, é! É absolutamente tudo.
Daniel - O que é que é ser tudo?
Júlia - É ocupar o espaço todo da afectividade e mais do que da afectividade, da intimidade, daquilo que é difícil na relação entre duas pessoas que gostam uma da outra. É ser-se capaz de ser próximo sem descolarmos nada que nos faz falta. A intimidade é feita de silêncios, eu estou muito calada ao lado do meu marido, que é uma coisa que ninguém julga que seja possível, mas eu estou muito calada ao lado dele. E estou muito confortável calada ao lado dele, isso é a intimidade absoluta, não tem a ver com a intimidade física de quem vive junto à vinte e seis anos, tem a ver com o entendimento, tem a ver com profundo sentido de humor, nós partilhamos exactamente o mesmo nível de onda, tivemos a sorte, podia não acontecer e eu não acho que seja indispensável para uma relação, mas temos mais ou menos os mesmos interesses (...). Ele ocupa de facto o espaço de toda a afectividade que eu preciso à minha volta, ele é o meu marido, o meu namorado, o meu amante, a minha mãe, o meu pai, a minha melhor amiga, ele tem a capacidade de preencher isso tudo e ao mesmo tempo nos zangármos, nos aborrecermos, temos as nossas diferenças que são tensões absolutamente essenciais para que uma relação evolua.